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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Tempestade

Nunca vivi nenhuma tempestade, acho. Ou pelo menos não as vi de perto. Sei que há uns anos houve uma por aqui...levou duas pessoas...um tinha a minha idade. 11 anos. Deve ter sido a maior catástrofe a que assisti. Não gosto de tempestades. Mas também não gosto de as deixar passar, admito.

Eu agarro o que posso quando posso. E se na tempestade é quando eu sou mais eu e tu és mais tu, eu vou ficar nela. Não vou esperar que passe. Porque sempre deixei passar. E não correu bem...passou à minha volta, passou por mim, mas eu não fiquei sem ela. Eu não me desapego assim. Não esqueço assim. Não consigo perdoar assim. Devia. Mas não sei faze-lo.

Eu não quero explicar-me mais. Tu já devias saber tudo. Já devias estar farto de saber, tudo! Porque eu falo. Falo pelos cotovelos, como se diz. Eu digo isto e aquilo, o que devo e o que não devo. Digo alto e digo baixinho. Digo direta e indiretamente. Digo uma só vez. Mas às vezes não paro de me repetir e repetir e dizer o mesmo vezes e vezes sem conta. Mas digo, digo sempre essas vezes e vezes sem conta, sempre na esperança que assim a tempestade passe, rápido...rapidinho. Porque senão não passa, pode passar para ti e para ele e para todos. Mas de mim não passa, não sai.
E eu lá fico, agarrada. Paranoica. Insistente. Sem conseguir sair. Eu não corro tanto como tu. Não mantenho a calma e procuro por outras saídas. Não penso racionalmente quando vem a tempestade. Mas "porra", tu já devias saber, Tu já devias estar farto de saber.

Eu acredito em mim. E que um dia vou sair disto tudo sozinha. Sem precisar da tua mão a puxar-me. Da tua ou da de quem for. Porque eu sei que quando quero, eu consigo. Mas sim...eu sou um bocadinho preguiçosa. E por agora, fui achando que na tempestade só se saía junto. Que se eu ficava presa, tu ficavas também. Que "não se deixa um homem para trás". Estava enganada. Não, não estava burra. Nem parva! Estava enganada. Iludida com a ideia de que tu ias ficar numa tempestade só porque eu estou. Mesmo que a tempestade sejas tu. E tu nem vejas isso.

Passa-te sempre tudo um pouco ao lado...

A palavra é uma arma. E eu às vezes perco um bocadinho o controlo das minhas armas. Não queria perder o controlo das nossas tempestades. Mas sabes? Não está fácil ultrapassa-las sozinha.

Ficará...ficará com toda a certeza.




quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Adolescente parva

Conheci a miúda mais irritante de sempre. É adolescente claro.
Acha que sabe tudo e que tem as receitas mágicas para tudo.

É ridícula. Normalmente não falo assim das pessoas, embora a maior parte dos que me acham conhecer assim o pensem. Mas não.

Mas esta rapariguinha...ela tira seja quem for do sério. Dá para perceber perfeitamente que não sabe um minimo do que aí vem. Do que é tirar um curso. Do que é trabalhar e ainda assim manter família, amigos e namorado. Acha que pode vir a viver de uma "carreira"! Os adolescentes são seres absolutamente insuportáveis. 

Anda toda apaixonada. Sempre andou. Sinceramente não me lembro dela sem uma paixãozita aqui ou ali. 
Mas admito, acho que desta vez a miúda ficou apanhadinha de todo. Coitada. E está cega. Não faz ideia do que lá vem. Com o seu ar snob de quem não precisa de ajuda. Lamento querida, mas não vais chegar lá sozinha. 

Diz que não há melhor que ele. Gosta de o mostrar e exibir. E ele ainda nem é dela. Aborrece meio mundo a falar dele, e irrita a outra metade que chega a ter inveja.
Os adolescentes têm esta facilidade em acreditar nos outros e em achar que o mundo se vai abrir para eles. Que tudo de bom está para vir e que só podem vir coisas boas. Que quando as coisas são boas são maravilhosas, e que quando algo corre mal o mundo está para acabar. Sentem tudo demasiado. Como os atores? Pois...agora imaginem um ator adolescente. Um drama totalmente insuportável.

Ela acha que ama. E que amar chega. Acha que ele a ama. E que ele dizer que a ama lhe vai chegar. E convínhamos, ela tem razão em achar isso. Porque ele mostra-lhe o que ela quer. Ele como ela, é totalmente intolerável. Não a larga. Perde horas do dia dele para saber dela. Para que ela saiba dele. Tudo lhe lembra ela. Todas as oportunidades são boas para esfregar esse ridículo amor em tudo o que é canto, em tudo o que é parede, em tudo o que é pessoa. Em tudo e todos. Peganhosamente. Adolescentes...certo?

Não tenho paciência. Pessoa esperançosa pelo futuro, pelo futuro a dois. Quem é que com 17 anos pode realmente achar que as coisas são tão...tão preto no branco? Enfim...qualquer adolescente! 

Mas esta...esta é totalmente e completamente iludida. E feliz. Irritantemente feliz. 

Não tenho saudades dela. Era um bocado burra.
Têm sorte, senão a conheceram há 5 anos, não vão ter de passar pela miserável tarefa de a aturar!




quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Valdisper

Hoje é sem 125. Melhor, sem valdisper 125.

É na calma de uma folha em branco que rebolas nas palavras que nunca são certas. Porque nunca tens palavras certas neste momentos. O problema é que isto nem são momentos. São ondas. Todos sabem que não gosto de ondas.

Bandeira verde.

O valdisper é o meu melhor amigo. Acho que isso explica muita coisa. "se te deixar mais leve, escreve" - ele tinha razão.
Não acho é que dê para ficar muito mais leve. Já devo pesar uns 5 kg. Talvez menos. Acho que já derreti aí pelo sol quente de Outubro. Já anoitece mais cedo, pelo menos. Não duas horas mais cedo. Não no meu dia. Mas já anoitece.

A Donkey Stallion dos Time for t tem 11787 visualizações. Nas ultimas três semanas eu devo ter contribuído com algumas centenas delas. Eles merecem! Supostamente, eles também "correm para onde não conseguem ver".

E então acontece o impossível. Fico sem palavras. Não existem taquicardias nem faz mais calor. Não faz frio sequer. Não há luz. Não há luz ao fundo do túnel, porque também não há túnel. E eu gosto de tuneis. Não me lembram o fim da vida. E a luz é boa. "ela sabe entrar na luz" disse o melhor técnico que conheço.

Hoje até eu me sinto a falar em enigmas. Mas não dos inteligentes. Não me acho burra, mas também não me acho inteligente. Acho que as pessoas inteligentes sabem controlar-se bem. Sabem o que dizer e quando dizer. Não deixam as palavras correr desnecessariamente. Sabem que há limite de palavras até na vida e que há coisas que não se dizem.

Eu sei pouco no que toca a auto-controlo. Sei pouco de tudo ultimamente. Sei tão pouco de ti. Sei que não esperas como eu. Que agarras o que podes quando podes e que não passas pelas coisas, pelas pessoas, pela vida. Não lhes passas ao lado. E não esperas. Eu gostava de saber não esperar. Mas quem sabe é melhor eu saber esperar.

Eu espero. Tu não te atrases.

Voltemos ao valdisper!

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Avó

Escrevo pouco por aqui.
Acho que só escrevo quando estou deprimida. O que é um bom indicio de pessoa minimamente feliz.
Na verdade, escrevo muito e apago ainda mais.
Mas isso é só porque não tenho nada de interessante para dizer. E quando não se tem nada de interessante para dizer, mais vale estar calado, sempre disse a minha avó.

A minha avó diz muitas coisas deste gênero. Muitas delas cheias de razão mas bastante desagradáveis por vezes. Consegue ser uma pessoa difícil ela. Somos parecidas. Ela cozinha bem e é super inteligente. Somos muito diferentes. Gosta de perder tardes inteiras de fim-de-semana numa esplanada de um café só a ver a paisagem ou quem passa. Eu não tenho muita paciência. "Não tens paciência para nada" diz-me ela. É péssima com tecnologias e eu e a minha mãe bem que tentamos ensina-la, ela desiste quase sempre. "Não tens paciência para nada" digo-lhe eu.
Quando estava a viver longe dela sabia que o sinal de saudades era quando recebia uma sms da minha avó a dizer "oi". A que custo ela o fazia. A meia hora que ela não perdia no telemóvel só para que a neta lhe ligasse sem ela parecer chata. Ela consegue ser chata. Ainda agora me chamou chata. Diz que não a deixo ouvir a novela. A minha avó não é como as vossas, não perde as noites a ver novelas, nem sabe quem são as apresentadoras da tarde e da manhã. Não vê os programas das terrinhas e da música pimba e odeia rancho e Tony Carreira. Mas gosta de história. E cada novela que tenha um pingo de história, lá está ela colada ao ecrã. Isso e no pingo doce aos sábados à tarde.
Ela é como eu. Percorre todas as promoções de todos os supermercados. Eu percorro todos os saldos de todas as lojas do shopping. Bem...no fundo sou eu que sou como ela.
A minha avó canta. Mas canta bem. Sempre cantou bem. Não canta só, não canta como a maior parte das pessoas dos coros, canta mesmo. Sabe cantar. Às vezes falta-lhe o ar...e a confiança. Somos parecidas.
Ela não sabe, mas foi ela que me pegou o vicio do jogo. Nas raspadinhas. No totoloto. No euromilhões. Nas rifas. Depois chama-me viciada. Diz que gasto dinheiro desnecessário em raspadinhas. Mas esta é a senhora que desde que me lembro todas as sextas-feiras à tarde vai por o seu totoloto. Sempre a mesma chave, sempre a mesma fé. Pouca ou nenhuma. Eu por outro lado acho sempre que vou ficar milionária.
Uma vez sonhou com a chave da lotaria. O meu avô quase que a esganava por não ter comprado a cautela certa.
Ela já perdeu o meu avô. Perdemos todos. Eu perdi menos. Não vivemos no mesmo tempo nem no mesmo espaço. Foi viúva cedo e quer ser viúva até morrer. Não por grande paixão. Diz que não tem paciência.

Aqui em casa a paciência não reina. Nem as grandes palavras. Têm reinado as grandes ações. A minha avó não me diz o que os vossos avós vos dizem. Eu sei porque eu ouço, e porque vejo. Mas a minha avó não sai de casa sem saber o que vou comer ou o que vou fazer. Não passa um dia sem palavras minhas. Mesmo que más por vezes. Mesmo a discutir lá me faz os meus panados ou o meu bolo verde. E lá me faz o meu vestido de verão contrariada. Não porque não quer. Mas porque como eu, tem a sua veia de artista. Emoção à flor da pele e palavra na ponta da língua.

Não é fácil ter uma avó como a minha...mas é tão bom! Deviam experimentar. Antes que seja tarde, sabem?



quarta-feira, 28 de setembro de 2016

E agora, amor?

Amor, 

Faz só três semana que não vejo os teus olhos verdes. Mas sabes? Já faz três semanas que não vejo os teus olhos verdes. O tempo não tem sido amigo. Não tem passado rápido como quando estávamos juntos, nem o ponteiro tende em correr a toda a velocidade para a meta. Agora todos tiram o seu tempo. Tudo passa com custo. Com tempo. Com dificuldade. Todos vivem lentamente e aproveitam cada minuto. Tenho sentido todos os minutos sabes...
A palavra saudade ficou pequena...já não cabes nela. Já não tenho palavra para ti. E agora? Como faço caber tanta saudade em tão pouco espaço? E repara amor, só não vejo os teus olhos verdes há três semanas. Já não vejo os teus olhos verdes há três semanas...E agora?

Agora já não ouço a tua voz ensonada "no caminho até ao carro". Já não te ouço chamar-me criança quando te peço para vires brincar comigo para a piscina. Agora já não tenho de insistir para vires para a água. Nem tenho de insistires para não saíres já da água! Agora já não tenho de te convencer a conduzir para eu apenas aproveitar a viagem. Nem me agarro com força ao banco do carro enquanto te peço para abrandares, embora nunca o faças. 
Hoje dei por mim parada em frente à tua porta, com vontade de te ligar e pedir para que desças. Acho que nem o teu carro estava lá.
Que saudades de te ver descer e de te ouvir respirar forte enquanto me beijas. De te ouvir respirar forte enquanto adormeces. E agora, amor? Quem é que agora vai adormecer na praia comigo? E quem vai adormecer enquanto fazemos planos? Quem vai adormecer uma hora só porque sim e ouvir-me ralhar duas por estares a dormir?
Agora, quando eu estiver com frio quem é que me vai gozar por não ter trazido casaco?

Acho que a minha mão, só cabe na tua mão fechada. Agora quem é que me vai ajudar a chegar onde não chego? Já não vou ouvir todos os sussurros de surpresa pelos teus quase dois metros. Nem vou ouvir comentários menos próprios pelos nossos diferentes quarenta centímetros. 
Quero de volta o meu sem assunto e nada romântico. O que não me abre a porta nem puxa a cadeira.

Saudades mesmo de me deitar no sofá com os pés no teu colo enquanto te queixas das péssimas séries que vejo. De irmos ao cinema e discutirmos por quem comeu mais pipocas. Por no final de um bom filme as protagonistas serem tão melhores atrizes do que eu alguma vez serei, segundo as tuas palavras. 

Agora ninguém me vai abraçar e tirar os meus pés do chão. Ninguém me vai olhar de cima  e dizer que a minha camisa é demasiado transparente.
Não te vou empurrar mais da cama. Nem te vou obrigar a sorrir para fotografias. Não te vou obrigar a estar acordado ou a ir jantar o que eu quero jantar. Agora nem tens de fazer a cama porque te vou visitar.

Espero que a água desse teu duche por aí não seja tão quente quanto a minha. E que as duas horas que separam o nosso relógio te façam voltar mais rápido. 

E agora, amor? 

O número três já não me soa à conta que Deus fez. Nem a saudade é mais um fortalecedor de relações. 

Agora és tu aí e eu aqui...